Um relato das viagens que vou fazendo em mim, numa busca que me leva a lugares estranhos e familiares, onde me deixo levar pela minha própria mão e olhar, para no fim de cada incursão conhecer um pouco melhor o meu mapa. A tela como suporte, o papel como meio de transporte. Rasgado, por vezes com fúria, outras docemente, procurando a textura em camadas sucessivas, não acrescentando nenhuma tinta, senão a que o próprio papel traz e lavando-o com aguadas breves, para quebrar a vibração da cor em diluições mais suaves. No início de cada viagem o destino é desconhecido. Embora me esforce para ver as linhas dos possíveis horizontes, estas não estão claras. Só no fim percebo onde me encontro. Aproveito então cada viagem, cada virar de direção. Cada escolha feita baseada na intuição de anos de experiência e observação, e vou caminhando… pelo Mar, Fátima Mateus.

O Mar é o tema transversal à sua obra. Correndo sobre a tela, pincela tons de azul, aqui ultramarino, ali cobalto, mais acima cerúleo. E depois o branco, rebentando de espuma, misturado com laivos de terra de siena queimada, reflexos dum pôr do Sol a começar.
Noutro espaço, noutro tempo, peixes comuns, sardinhas e douradas, tão conhecidas nos pratos e nos mercados, naturezas mortas, memórias da vida no mar, memórias de mar à mesa.

Fátima Mateus nasceu a 13 de outubro de 1965, em Azeitão. Desde cedo inspirada pelas artes plásticas aprendeu, ainda jovem, a arte do restauro de porcelanas e faianças e fez também alguma fotografia. Até 2011, viveu e trabalhou em Estremoz, de onde se mudou para Lisboa para estabelecer o seu atelier, por vezes transformado numa espécie de laboratório de química, fruto das várias técnicas que vai experimentando. Apaixonada por tudo isto e mais, encantada por partilhar a sua experiência, Fátima Mateus é professora de pintura há mais de 20 anos.

Há dias em que parece que o mundo se tinha esquecido das leis da física, tornando possível nadar no céu e voar no mar, sem distinguir onde um acaba e o outro começa, em estado de perfeita simbiose e simetria. Como um casamento perfeito onde cada um se reflete e absorve o outro. O Céu ilumina o Mar e este devolve em marés húmidas, entranhando-se outra vez sob a forma de água evaporada, impregnando-o de nuvens volumosas e densas para depois, e ainda nesta dualidade/unidade, voltar a si numa torrente de gotas grossas ou suavemente em chuva miudinha, num sensual ato de amor e harmonia, Fátima Mateus.

As suas obras estão espalhadas por todo o mundo em coleções privadas e públicas.
Visite-a no seu atelier na Rua das Fontainhas, 44, em Alcântara, Lisboa e, quem sabe possa ser tentado(a) a experimentar um curso de pintura.
Contacto: 914 690 537
3 Comentários
dipinto molto bello dell’artista
Valorizar a arte portuguesa e em concreto a pintura sobre o mar.
A essência do belo e a sensibilidade de quem pública são essenciais para o nosso legado cultural.
Bem haja João Gonçalves.
A divulgação dos nossos artistas é muito bem vinda. Artigo interessante pela ligação ao mar como inspiração. As obras mostradas são admiráveis! Parabéns a Fátima Mateus!