Passavam 45 minutos do dia 30 de março, quando o navio de vigilância do litoral ANBV (Armada Nacional Bolivariana de Venezuela) NAIGUATÁ (GC-23), do Comando de Guardacostas, se afundou na sequência duma colisão com o navio de cruzeiros RCGS RESOLUTE, de 122 metros de comprimento, deslocando 8300 toneladas e registo RINMAR, e por conseguinte de bandeira portuguesa.
Este navio patrulha, com 80 metros de comprimento e 1423 toneladas de deslocamento, tinha sido entregue à Venezuela há apenas 9 anos. A sua guarnição era composta de 44 elementos, tendo sido todos salvos por outros navios da Armada Bolivariana.

Fazia parte da classe GUACAIMACUTO, composta por quatro navios desenhados e construídos pelo estaleiro espanhol NAVANTIA, em San Fernando, perto de Cádiz.
O relato dos acontecimentos, segundo algumas fontes do espaço digital, refere que o navio RESOLUTE navegava numa rota em torno do litoral oriental da América do Sul, vindo da Argentina e com destino incerto, tendo chegado a uma posição perto da costa norte da ilha de Trinidad onde, na manhã do dia 26 de março, fez rendez-vous com o navio-tanque Kerkyra de Port of Spain, Trinidad, para um mais que provável reabastecimento.
Posteriormente seguiu viagem para Oeste, tendo, no dia 29 de manhã ficado a pairar por avaria numa posição sensivelmente 60 milhas a norte da costa da Venezuela. Durante as várias horas que durou a reparação, o navio esteve à deriva, aproximando-se a cerca de 9 milhas da ilha venezuelana desabitada de Tortuga, tendo no final do dia recuperado a potência das máquinas e metido rumo para Willemstad, na ilha de Curaçau, um protetorado dos Países Baixos.

Foi já perto da meia-noite, segundo o comunicado do armador Columbia Cruise Services, que o RESOLUTE foi intercetado pelo navio patrulha venezuelano, tendo o comandante, Capitán-de-navio Granadillo Medina, dado instruções para o acompanhar a Puerto Moreno, na ilha Margarita.
Considerando o Capitão do RESOLUTE que não tinha violado qualquer regulamento do direito internacional marítimo, uma vez que já se encontraria em águas internacionais e que, dentro do mar territorial tinha navegado ao abrigo do “direito de passagem inocente”, informou que iria consultar o escritório do armador, na Alemanha, uma vez que as ordens obrigavam a um significativo desvio da sua rota.
Alegadamente não satisfeito, o comandante Granadillo Medina, decidiu disparar tiros de aviso (parece que o RESOLUTE terá sido atingido por projéteis de 12,7mm) e iniciou manobras de abalroamento contra a amura de estibordo do RESOLUTE, investindo a elevada velocidade e com um ângulo de 135º, eventualmente tentando forçar uma alteração de rumo por parte do navio de pavilhão português. E, terá sido numa dessas manobras que, ao colidir com o RESOLUTE, não terá previsto nem a dureza do casco (o RESOLUTE é um navio da classe polar mais elevada, registado na Lloyd’s class 1AS), nem a existência dum bolbo, que terá aberto um grande rombo abaixo da linha de água, provocando uma intensa entrada de água e consequente perda do navio militar.

Recorde-se que dos sete navios comprados ao estaleiro espanhol Navantia, e entregues entre 2010 e 2012, este é o segundo perdido. O primeiro, o ANBV WARAO (PC-22), encalhou frente a Recife, durante exercícios com a Marinha do Brasil, não tendo até hoje sido reparado, estando atracado na Venezuela em situação não operacional.
Segundo acusam as autoridades venezuelanas, o RESOLUTE abandonou o local da colisão sem prestar ajuda, nem emitir pedidos de socorro para o navio que se afundava. No entanto não é essa a verão do armador.
Na tarde de dia 2 de Abril, respondendo a um pedido do governo venezuelano para que o governo de Curaçau iniciasse imediatamente um inquérito, a ministra dos transportes de Curaçau, Zita Jesus-Leito, informou que “o navio chegou ao porto para fazer banca, não havendo autorização para desembarque de nenhum dos tripulantes. O navio sofreu um acidente perto da Venezuela, situação que não é um problema de Curaçao, pelo que poderá sair, devendo o problema ser resolvido entre a Venezuela e Portugal.”

Do lado português, compete ao Gabinete de Investigação de Acidentes Marítimos (GAMA) as actividades de investigação de segurança relativas a acidentes e incidentes marítimos, ocorridos com navios e embarcações com bandeira portuguesa, tendo em vista apurar as respectivas causas e emitir recomendações de segurança, com o objectivo de prevenir e reduzir futuras ocorrências.
4 Comentários
Como é possível que, os nossos governos, permitam que a bandeira nacional , seja enxovalhada por um registo de conveniência, e permitir , por outro lado, que a Madeira seja um “paraíso fiscal ”
Depois de 500 anos no mar os governos democráticos( ???? )pós 25 Abril 1974 destruíram a nossa Marinha Mercante e até fizeram um registo de conveniência na Madeira ??? Sendo ,e fui , anti -Salazarista convicto , infelizmente ,tenho de concluir mais uma, em que estamos pior que no tempo de Salazar ! A outra : a precariedade dos postos de trabalho, os despedimentos (proibidos no tempo de Salazar !,) os “recibos verdes” , os trabalhadores substituídos por “colaboradores “(???) etc. Mas afinal, que raio de Democracia é esta ???? que em diversos aspectos, consegue estar pior que no tempo de Salazar ?
Luiz Moita, Oficial piloto da Marinha Mercante (curso complementar da Escola Náutica Infante D.Henrique) Navegador da TAP reformado.
Parabéns pela oportunidade e qualidade da excelente narrativa sobre este acontecimento de mar.
Por agora ainda se desconhecem os motivos do acidente, mas o VDR do ” Resolute ” irá, certamente, esclarecer o sucedido.
Pelo que li sobre o assunto ,o Cte do GC parece ter ignorado o efeito da interacção hidrodinâmica e a Ice Class 1AS do “Resolute” , cortando o casco do “Naiguata” como diamante corta vidro. Embora o efeito de interacção seja conhecido há mais de um século só começou a ser estudado com mais afinco após o acidente em Setembro de 1911 entre o RMS “Olympic” e o cruzador HMS “Hawke” e logo a seguir entre o “Titanic” e o “New York” , este sem grandes consequências.
Em Dezembro de 1978 o Dr. Corlett apresentou um trabalho numa reunião ordinária do “Royal Institute of Navigation” em que descrevia o fenómeno da interacção e dizia que todos os marinheiros deviam ser instruídos sobre esta matéria.
O cte do GC perdeu a oportunidade de oferecer ao seu Presidente Maduro um iate presidencial e este vingar-se da guerra do pernil ou do transporte pela TAP da família do seu opositor.
Com amizade,
Joaquim B. Saltão
OS MEUS PARABÉNS PELA QUALIDADE E ACTUALIDADE DO ARTIGO.
ANDEI PROCURANDO NA NET INFORMAÇÕES SOBRE O ACIDENTE E ACABO POR ENCONTRAR AQUI MUITO DO QUE PROCUREI SEM ENCONTRAR.
Artigo MUITO BEM FEITO e MUITO OPORTUNO
Muitos Parabéns ao Autor
JlG Cardoso