O NRP ALBACORA, que a maioria dos entusiastas de navios conhece, foi um submarino do tipo DAPHNÉ, construído em França, nos estaleiros Dubigeòn-Normándie, e entregue à Marinha Portuguesa no dia 1 de outubro de 1967.
Sendo o primeiro submarino desta classe de quatro submarinos, deu-lhe o nome: classe ALBACORA.
Durante quase 33 anos, embalou no seu ventre gerações e gerações de submarinistas portugueses, tendo terminado a sua vida ativa em julho de 2000.

Mas o que muitos desconhecem, é que antes do NRP ALBACORA, navio negro e vigilante das profundezas, houve outro, que, embora também se dedicasse aos fundos marinhos, tinha cor branca, dois mastros e velas.
Fomos encontrar o seu modelo, à escala 1:48, no Museu de Marinha de Lisboa e ficámos curiosos por aprender a sua história.
Construído na Noruega, em 1924, nos estaleiros Lindate & Son, propositadamente para dar apoio à investigação oceanográfica, concretamente nas áreas da oceanografia física e da biologia marinha, o primeiro NRP ALBACORA é considerado o primeiro navio oceanográfico português.
De casco em ferro, deslocava 335 toneladas, tinha 22,5 metros de comprimento (fora a fora) e era propulsionado por um conjunto de semi-dieseis[i] com a potência de 60 cavalos e um só hélice, atingia a velocidade de 5 nós.
Armava em Palhabote, ou seja, com dois mastros e respetivos mastaréus, içando pano latino quadrado em ambos, e tinha uma guarnição constituída por 15 elementos.

O biólogo Dr. Alfredo Magalhães Ramalho, notável cientista, acompanhou a sua construção tratando do respetivo apetrechamento científico, tendo nele vindo, posteriormente, a participar em diversas missões.
O ALBACORA foi entregue à Marinha em finais de 1924 e no ano seguinte prosseguiu os estudos que haviam sido realizados, entre 1896 e 1907, sob o patrocínio do rei D. Carlos I nos iates AMÉLIA. Até 1931 efetuou vários cruzeiros na costa continental portuguesa, arquipélagos da Madeira e das Canárias, Casablanca e Gibraltar, prestando apoio aos estudos nas áreas de oceanografia, biologia marinha e pescas.

Em 1937 foi integrado na Estação de Biologia Marítima passando a dispor de guarnição civil, mas usufruindo dos privilégios, vantagens e isenções idênticos aos navios da Armada, facto que deu à Estação autonomia para desenvolver a sua atividade sem a qual não era possível realizar um estudo contínuo e sistemático no domínio da oceanografia física e biológica.
Em 1940, o ALBACORA foi desarmado e, em 1942, abatido ao Efetivo dos Navios da Armada, continuando, porém, integrado na Estação de Biologia Marítima até 1948, ano em que o Ministério da Marinha procedeu à sua entrega, por doação, à Junta Central das Casas dos Pescadores para ser afetado ao ensino ministrado na sua escola profissional de pesca.


O ALBACORA contou no seu historial com a realização de 1.400 estações oceanográficas em cruzeiros organizados pelo Dr. Magalhães Ramalho, o que lhe permitiu publicar importante estudos como a “Crise da Pesca da Sardinha”, o “Problema da Sobrepesca” e a “Carta Litológica Submarina da Costa de Portugal”.
Depois de tantos serviços prestados ao país, é importante que a memória deste navio continue a ser preservada.
Fonte: Revista da Armada, nº458, dezembro 2011
[i] Motor de combustão interna de um tipo semelhante ao motor a diesel no uso de óleo pesado como combustível, mas empregando uma pressão de compressão inferior de 100 a 350 libras por polegada quadrada
1 Comentário
Artigo muito interessante sobre as nossas campanhas oceanográficas, as quais já merecem uma compilação mais sistemática e integradora, com a habitual qualidade das reportagens fotográficas do Comdt. João Gonçalves, e com destaque para a fotografia ao largo de Sesimbra.
Os parabéns à Revista de Marinha e ao autor.
Cordialmente, Artur Manuel Pires