O ataque realizou-se em alto mar
Conforme relatado pelo site turco Denizhaber, foi às 07h36, hora de Lisboa, no sábado, 23 de janeiro, que o porta contentores MV MOZART de bandeira liberiana (Monróvia), mas pertencente ao armador turco Boden Denizcilik A.S. , navio de 222m, foi abordado por piratas numa posição a cerca de 98mn (milhas náuticas) a noroeste de S. Tomé e Príncipe., quando navegava carregado entre os portos de Lagos, Nigéria e Cidade do Cabo, África do Sul.

Normalmente, os navios mercantes que navegam nas perigosas águas do Golfo da Guiné, têm a bordo uma equipa de seguranças armados, mas não foi o caso do MV MOZART. O capitão Mustafa Kaya e os seus 18 tripulantes refugiaram-se e trancaram-se numa zona segura. Os navios mercantes, para segurança das tripulações em caso de ataque, dispõem duma zona, ou compartimento, cujas paredes são dum aço mais espesso para impedir o arrombamento.

No entanto, os piratas, utilizando uma ferramenta especial conseguiram, ao fim de 6 horas, furar o aço da antepara e introduzir o cano duma arma tendo disparado e morto o segundo engenheiro de nacionalidade azeri, Farman Ismayilov, a única vítima mortal. Posteriormente, raptaram 15 dos tripulantes, tendo destruído todos os equipamentos não essenciais para a navegação, permitindo assim, que os 3 tripulantes que ficaram a bordo conseguissem navegar o MV MOZART para Port Gentil, no Gabão, onde o navio chegou cerca das 08h00 de domingo, 24 de janeiro.

O empenhamento do NRP ZAIRE
Entretanto, o NRP ZAIRE foi empenhado a pedido da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe, tendo a sua intervenção sido posteriormente dispensada, após contacto com tripulação do MV MOZART e com a Guarda Costeira de São Tomé. Recorda-se que o navio patrulha ZAIRE, da Marinha de Guerra Portuguesa, se encontra em missão de capacitação operacional da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe desde 22 de janeiro de 2018, sendo operado por uma guarnição mista São-tomense e Portuguesa.
Segundo uma nota do EMGFA, em julho de 2020, o navio já tinha realizado 12 ações de busca e salvamento, 24 missões de fiscalização conjunta, 4 ações de segurança marítima no âmbito da pirataria e 7 vistorias a navios.

Guarda armada não é garantia de proteção
No início de janeiro de 2020, de acordo com o The Maritime Executive, a draga AMBIKA, que operava na foz do Rio Ramos, ao largo do terminal de Forcados, na Nigéria, foi atacada por um grupo de piratas. A draga, propriedade dum armador nigeriano, estava fundeada na foz do Rio Ramos, e tinha a bordo uma guarda armada. Os guardas reagiram ao ataque, o que resultou numa violenta troca de tiros, que deixou 4 mortos e 2 feridos a bordo da draga. Os piratas abordaram então a AMBIKA e raptaram os tripulantes estrangeiros, dois homens de nacionalidade russa e um indiano.

2020 um ano de crescimento da pirataria no Golfo da Guiné
Segundo o Centro de Informação de Pirataria, do Bureau Marítimo Internacional, da Câmara de Comércio Internacional*, registaram-se em 2020, 195 incidentes e roubos armados a navios em todo o mundo, em comparação com 162, em 2019. Desde 2019, que no Golfo da Guiné se regista um crescimento sem precedentes dos raptos de tripulantes, onde aconteceram 95% de todos os raptos marítimos no mundo. A capacidade de conduzir ataques ao largo da costa, em alto mar, também aumentou, desenvolvimento que forçou o IMB a aconselhar aos navios guardarem um resguardo de 250mn da costa, quando naveguem próximo daquela região.
* International Chamber of Commerce’s (ICC) International Maritime Bureau (IMB)

N.R. Se pretender saber mais sobre este tema da pirataria, pode encomendar a obra Pirataria Marítima Contemporânea, de Henrique Portela Guedes. Os pedidos devem ser enviados para o e-mail revistamarinha@gmail.com