NRP SETÚBAL encontrou um náufrago que esteve cerca de 30 horas perdido a boiar no mar.
Para quem não tem experiência de navegar no alto mar é difícil compreender a quase impossibilidade de encontrar um homem caído à água no meio do oceano. Mas para a maioria dos marinheiros que conhecem a realidade do mar aberto, das ondas, do vento e sabem da gigantesca dimensão da mancha azul quando comparada com a ínfima pequenez do tamanho dum ser humano, é uma realidade que se tem bem presente todos os dias.

Cair ao mar, mesmo num dia com pouca agitação marítima é quase sempre fatal.
Por isso acreditamos que para os homens e mulheres da guarnição do Navio Patrulha Oceânico NRP SETÚBAL, o dia 14 de abril de 2020 nunca mais será esquecido.

A operação SAR (Search And Rescue)
O alerta chegou à Marinha, através do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Ponta Delgada (MRCC Delgada), cerca das 23h35 (horas locais) do dia 12 de abril:
HOMEM AO MAR caído do navio mercante UACC MANSOURIA, numa posição a cerca de 250 milhas náuticas (mais de 460 km) a sudoeste da Ilha das Flores.
De imediato foi iniciada uma operação de busca e salvamento, coordenada pelo MRCC Delgada, em articulação com o Centro de Coordenação de Busca e Salvamento das Lajes (RCC Lajes), envolvendo o navio da Marinha em missão nos Açores, NRP SETÚBAL, uma aeronave de busca e salvamento C-295M da Força Aérea Portuguesa, o próprio UACC MANSOURIA e mais dez navios mercantes que se encontravam na região e foram desviados para a área.

O NRP SETÚBAL dirigiu-se a velocidade máxima de 26 nós (cerca de 48 km/h), tendo chegado à área de busca cerca da meia-noite do dia 13 para 14 de abril.
Segundo um relato da imprensa, o MANSOURIA ainda teria executado a manobra de homem ao mar, que consiste numa manobra de rotação do navio por forma a sair do rumo corrido e voltar à posição onde o homem caiu ao mar. Dadas as dimensões e enorme inércia dos navios estas manobras podem chegar durar mais de meia hora, e foi o que deve ter acontecido com o MANSOURIA, que ainda teve o náufrago à vista durante algum tempo, mas que o perdeu definitivamente, só voltando a ser avistado, por um acaso, um verdadeiro milagre, pelo NRP SETÚBAL, era já noite cerrada, às 02h24, horas locais, quase 30 horas depois da queda do tripulante ao mar. Valeu-lhe o fato de sobrevivência que envergava, fundamental para o proteger da hipotermia e valeu-lhe a luz emitida pelo fato. Valeu-lhe igualmente o treino, o esforço e a persistência dos vigias do navio patrulha português e os seus equipamentos de visão noturna.

Em segundos foi arreada a lancha rápida do NRP SETÚBAL, cuja tripulação integrava o enfermeiro de bordo preparado para avaliar a condição clínica e assistir o náufrago em caso de necessidade urgente.
À chegada a bordo o homem foi recebido com uma grande ovação da guarnição do navio a quem agradeceu de mãos postas terem-lhe salvo a vida.



O navio regressou, entretanto, a Ponta Delgada onde, na manhã do dia 15 de Abril, o tripulante foi desembarcado e transferido para observação no hospital Divino Espírito Santo.
O importante papel do instituto Hidrográfico da Marinha
Um dos meios mais importantes empenhados nesta operação foi o Instituto Hidrográfico, em Lisboa que, com os seus modelos matemáticos e os dados das correntes oceânicas, dos ventos e da ondulação, calculou a deriva provável do náufrago, possibilitando definir com uma grande precisão a área de busca.

O navio químico UACC MANSOURIA

O UACC MANSOURIA (IMO 9489089), é um navio químico, foi construído em 2013 nos estaleiros da Shina, SB, em Tongyoung, na Coreia do Sul. Mede 183m de comprimento e desloca cerca de 29.000 tons. Está registado no porto de Majuro, Marshall Islands, e é operado pela United Arab Chemical Carriers (UACC) propriedade da Qatar Investment Authority (QIA) e da Public Investment Fund of Saudi Arabia (PIF).
O NRP SETÚBAL
O Navio da República Portuguesa (NRP) SETÚBAL, o quarto da classe Viana do Castelo e o mais recente navio da Marinha, foi batizado em 6 de fevereiro de 2019, sendo comandado pelo capitão-de-fragata Rui Manuel Zambujo Madeira e tem uma guarnição de 46 elementos.

O SETÚBAL, foi construído em Viana do Castelo, nos estaleiros da WESTSEA, num consórcio com a EDISOFT (THALES), tem 83,10m de comprimento e desloca cerca de 1.900 toneladas.
Está desde o princípio de abril na sua segunda missão na Zona Marítima dos Açores, onde desenvolve tarefas específicas no âmbito da busca e salvamento marítimo, da monitorização e controlo da pesca e da navegação, da prevenção e combate à poluição marinha e na prevenção e combate a atividades ilegais, como o narcotráfico. Para além destas tarefas também poderá ser empregue em operações militares e está capacitado para dar apoio humanitário na sequência de desastre naturais, tendo um importante papel no apoio à estrutura da Proteção Civil dos Açores.
Recordamos que em maio de 2019, o NRP SETÚBAL foi o navio que, ao largo de Cabo Verde, apoiou a captura duma traineira brasileira com 1 tonelada de cocaína e, em outubro do mesmo ano, foi o primeiro navio da Marinha Portuguesa a chegar ao porto das Lajes, na ilha das Flores, e a prestar auxílio àquela ilha açoriana, após a destruição provocada pelo furacão “Lorenzo”.

Estiveram envolvidos nesta operação o MRCC Delgada, o RCC Lajes, o NRP Setúbal, o Instituto Hidrográfico, uma aeronave C-295 da FAP e os navios mercantes “UACC Mansouria”, “CMA CGM Marseille”, “Vitakosmos”, “Nordseine”, “Manzanillo”, “MSC Lucy”, “TORM Kansas”, “Golar Seal”, “Star Herdla”, “Frontier Sky” e “Callisto”.